Águas Profundas

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Será que é possível perdoar um assassinato? Será que o crime maior e indefensável pode ser justificado, à luz de constantes golpes contra o orgulho e o ego de uma pessoa acima de qualquer suspeita? Esses são alguns dos questionamentos que permeiam a mente de qualquer um que assiste este filme.
Águas Profundas coloca o você em um conflito moral. Victor passa boa parte sendo humilhado pela esposa, até o momento em que explode e comete um crime. Apesar de não ter agido de caso pensado, ele não tem nenhum ressentimento ou medo em relação ao ato. Ao invés disso, sente-se sente cada vez mais confiante e de bem consigo mesmo. De forma íntima, Highsmith apresenta ao leitor o nascimento de um psicopata.
Só que, no momento em que Victor é realmente exposto, o expectador já comprou sua narrativa e está do seu lado. O crime, então, se torna apenas um acidente de percurso. Victor pode ser ruim, mas foi provocado. De repente, começa-se a relativizar o pior do crimes, enquanto demonizamos o adultério, a humilhação e o ego ferido.
Em Águas Profundas conta a história do casal Victor e Melinda Van Allen, que vivem uma vida confortável em um subúrbio nos arredores de Nova York. Apesar de não nutrirem mais nenhum sentimento um pelo outro, para ambos o divórcio é algo impensável - seja pela filha, pela estabilidade financeira ou pelo ego ferido.
Como uma forma de evitar o divórcio, Vic aceita que Melinda saia com quem bem entender. Tudo muda quando Vic, tentando afugentar o mais recente affair da esposa, inventa que assassinou um dos casos anteriores da mulher. A brincadeira acaba fugindo do controle, ganhando contornos cada vez mais sombrios.
Assim como todo drama psicológico com ares de suspense, Em Águas Profundas é uma obra que se sustenta basicamente em seus diálogos afiados e divagações. Ou seja, quem prefere tramas mais aceleradas e repletas de ação facilmente achará o filme monótono.
Sobre ela só sabemos o que é pensado por Victor e dito por outros personagens: que é uma mulher sem grande profundidade intelectual, impulsiva, uma esposa e mãe negligente. Os casos de Melinda não são segredos para ninguém e os olhares constrangidos que ela recebe dos amigos de Victor são o suficiente para que a vejamos como uma pessoa de caráter duvidoso e digna de pena.
Victor é visto por um olhar bem mais gentil. Ele é amável com os amigos, uma ótima companhia em festas, cuida da casa e da filha enquanto a esposa está mais preocupada com seus amantes, e aceita as traições.
Ao mesmo tempo em que é visto como um coitado, Vic também é considerado um homem apaixonado, que espera pacientemente essa fase "rebelde" de Melinda passar para que os dois possam ter uma vida feliz juntos.
No entanto, o Filme também mostra doses do que se passa na cabeça de Victor. É por meio de seus pensamentos que percebemos que o homem não nutre nenhum amor pela mulher. Pelo contrário, conforme a história vai ganhando contornos cada vez mais sinistros, o protagonista se anima com a infelicidade da esposa.
Águas Profundas coloca o você em um conflito moral. Victor passa boa parte sendo humilhado pela esposa, até o momento em que explode e comete um crime. Apesar de não ter agido de caso pensado, ele não tem nenhum ressentimento ou medo em relação ao ato. Ao invés disso, sente-se sente cada vez mais confiante e de bem consigo mesmo. De forma íntima, Highsmith apresenta ao leitor o nascimento de um psicopata.
Só que, no momento em que Victor é realmente exposto, o expectador já comprou sua narrativa e está do seu lado. O crime, então, se torna apenas um acidente de percurso. Victor pode ser ruim, mas foi provocado. De repente, começa-se a relativizar o pior do crimes, enquanto demonizamos o adultério, a humilhação e o ego ferido.
Em Águas Profundas vai até as últimas consequências para levar o expectador a torcer pelo vilão. E perceber-se desenvolvendo empatia por alguém como ele é um sentimento extremamente desconfortável.
O ambiente da obra também causa desconforto. O subúrbio americano, tão retratado em filmes, livros e séries como um lugar opressivo e de onde se deseja fugir, é um palco certeiro para esse tipo de drama psicológico repleto de ambiguidades.
O lugar passa segurança, por conta dos fortes laços de Victor com os outros habitantes, mas ao mesmo tempo dá uma sensação incômoda de que alguém está sempre espreitando nas sombras.
O filme cria um pacto profundo entre expectador e vilão, ao mesmo tempo em que discute temas atemporais, como o adultério e os relacionamentos despedaçados. Enquanto internaliza os sentimentos mais cruéis de seu protagonista, a obra coloca o expectador em uma situação delicada, o obrigando a confrontar suas próprias contradições. Por isso, a leitura é pra lá de interessante.